terça-feira, 21 de outubro de 2014

As raízes do eu…


Era uma vez uma árvore. Uma árvore grande, com muitas folhas e ramos sustentados num tronco forte e robusto. Esta árvore tinha já uma longa vida, tal como demonstrava o seu longo e rugoso tronco. No entanto, esta árvore era diferente das árvores que conhecemos… Ela viveu em bosques, em parques naturais, no jardim de uma casa, junto a uma praia, onde se deliciou com o som do mar, entre outros encantadores locais…

O seu crescimento foi lento, pelo menos foi assim que lhe pareceu… Em cada local ela conhecia novas cores, novos sons, novas sensações, novos cheiros… com os quais se deliciava… Conheceu também outras adversidades, o calor sufocante, o frio que a enregelava, a sede que a atormentava, a água que quase a afogava… Mas de cada adversidade ela saía mais forte, por vezes era doloroso, tinha que cortar algumas das suas raízes para poder sobreviver e continuar a crescer.

Esta árvore tinha uma particularidade, era muito irrequieta e observadora. Enquanto crescia no bosque, a sua atenção prendeu-se nos pássaros, deliciava-se a observá-los dia após dia e em cada dia ela aprendia uma coisa nova… Houve um dia que a sua atenção se prendeu num pássaro em particular, nada a fazia desviar a sua atenção… ele era irrequieto e ávido de vida como ela… E foi esse pássaro, colorido, elegante, ágil, terno, sensível e cheio de energia o foco da sua atenção durante segundos, minutos, horas, dias e dias…sempre que ele se aproximava ela sentia já o seu coração a bater, parecia que estava dentro dele.

Passado algum tempo, respirou fundo e sentia-se o pássaro colorido, ousou juntar os seus troncos e as suas longas folhas e voar para um lugar desconhecido.

Assim crescemos e nos desenvolvemos, há momentos em que estamos mais viçosos, momentos em que estamos mais murchos e necessitamos de cortar algumas raízes para que possamos continuar a crescer.

Maria Mendes, 23 de Abril de 2012, Alfa Pendular, Lisboa-Espinho

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